Gastar menos dinheiro é difícil ? e não apenas para você. Há um sistema no cérebro que torna o ato de poupar desafiador para qualquer mortal.
?Do ponto de vista biológico, a produção de serotonina e dopamina [neurotransmissores] faz com que a maioria das pessoas ligue o dinheiro à recompensa. ?Eu trabalho e mereço ganhar e gastar o meu dinheiro??, explica o neurocientista Aristides Brito.
A questão, complementa ele, ?é que esse mecanismo fica tão forte que se perde a noção de quanto temos e de quanto podemos gastar?. Mas é possível ?enganar? o cérebro,... [Leia mais]
Gastar menos dinheiro é difícil – e não apenas para você. Há um sistema no cérebro que torna o ato de poupar desafiador para qualquer mortal.
“Do ponto de vista biológico, a produção de serotonina e dopamina [neurotransmissores] faz com que a maioria das pessoas ligue o dinheiro à recompensa. ‘Eu trabalho e mereço ganhar e gastar o meu dinheiro’”, explica o neurocientista Aristides Brito.
A questão, complementa ele, “é que esse mecanismo fica tão forte que se perde a noção de quanto temos e de quanto podemos gastar”. Mas é possível “enganar” o cérebro, ensinando a pensar diferente. Confira, a seguir, quais são as recomendações de especialistas.
1. Entender o funcionamento do cérebro
O neurocirurgião e educador financeiro Francinaldo Gomes ensina que, em termos de finanças, perde-se a racionalidade. “Nosso cérebro é moldado, por meio de conexões sinápticas, para consumir o que se ganha, sem preocupação em poupar. Quando nos tornamos adultos e nosso cérebro já está organizado, fica muito difícil refazer estas conexões para que nos tornemos poupadores e investidores.”
Além disso, acrescenta ele, por fazermos parte de uma massa que não poupa, “nos sentimos desconfortáveis em nos tornar poupadores e deixar de fazer o que a maioria está fazendo”. Segundo ele, é por isso que grande parte das pessoas não enriquece e, quando ganha dinheiro, acaba não poupando.
2. Registrar os gastos
“Você pode começar registrando tudo o que gasta, desde a bala de R$ 0,05 até as coisas mais caras e as contas mensais”, orienta a neuropsicóloga Talita Souza Perboni, do Hospital INC, de Curitiba (PR). Dessa forma, tomará consciência de gastos que não deveriam ser feitos ou de compras que poderiam ser cortadas.
Aristides assinala: “Organização e disciplina são as chaves dessa mudança”. Ou seja, será preciso encarar a tarefa – nem sempre agradável – de separar as contas, colocar no papel ou em uma planilha as receitas e despesas e, do que sobra, estabelecer o destino para cada parte da vida (contas de consumo, aluguel, alimentação, transporte e vestuário, por exemplo).
Outra dica, segundo o neurocientista, é não comprar nada no crédito ou parcelado até se organizar. “Controle todos os gastos, pegue comprovante e anote no papel, faça uma planilha de tudo. A pessoa vai perceber que são os pequenos gastos diários que ‘quebram’ a disciplina.”
3. Separar e aplicar pequenas somas
Depois de fazer uma devassa nas contas e de separar o que deve ser pago, a neuropsicóloga recomenda fazer um investimento pequeno. A orientação é começar com um tipo de aplicação que possa ser resgatado facilmente e que permita aportes regulares – mensais ou semanais, por exemplo.
“A partir do momento em que começar a poupar e investir esse dinheiro, você passa a ver que o valor inicial está aumentando e que isso vai proporcionar conquistar algo que gostaria muito, mas que não sabia quando ou como iria comprar”, diz ela. “Você vai ajustando o sistema cerebral de recompensa e, com auxílio de um psicólogo, isso pode ficar ainda mais fácil.”
4. Presentear a si mesmo ou a alguém muito querido
Pense em algo de pequeno valor, mas que dependa de uma poupancinha. “Tem que ser algo importante para a pessoa, como uma viagem ou um presente para o filho, algo que tenha valor emocional, senão ela não se compromete”, considera Aristides. Mensalmente, quando receber o salário ou a remuneração, reserve aquela parte para o presente. “Quando perceber, já começou a organizar tudo”, ressalta.
5. Mudar hábitos de consumo
“Um dos erros mais comuns, que desestimula as pessoas a poupar, é a ideia errada de que é preciso abdicar das coisas boas, como viajar, sair para jantar, ir ao cinema”, destaca Francinaldo. Segundo ele, como essas medidas envolvem privação, o cérebro rapidamente as rejeita.
A forma mais eficiente de gastar menos dinheiro, complementa ele, é "encontrar a forma mais barata de levar uma vida rica". Ou seja, é preciso escolher opções mais baratas, “pois consumir deve ser tão importante e prazeroso quanto poupar”.
Vale fazer compras em atacadões, usar milhas ou viajar por meio de clubes de viagem, recorrer a sites de compras coletivas, realizar permutas de bens e serviços, juntar cupons de desconto e programar-se com antecedência.
“São medidas que farão com que você faça o que gosta e pague menos. Isto fará com que você consiga poupar sem privações”, resume o neurocirurgião.
6. Deixar o lado racional assumir o comando
Francinaldo recomenda evitar tomar decisões quando estiver emocionalmente comprometido. “Ao se deparar com um produto que você quer muito, como uma roupa, mas está sem dinheiro para comprar, seu cérebro primitivo assume o controle e leva você a agir instintivamente e comprar o produto mesmo sem ter como pagar”, exemplifica.
Quando essa vontade de ter algo aparecer, é hora de se perguntar: Preciso disso? O dinheiro gasto vai fazer falta? Tenho como pagar? Consigo adiar a compra? Posso comprar algo mais barato? Dessa forma, “você colocará seu cérebro racional no comando e tomará a melhor decisão”, diz ele, acrescentando que ioga, meditação e mesmo aulas de coach ajudam nesse processo.
7. Focar o bem-estar e a saúde emocional
O neurocirurgião e educador financeiro explica que, com relação às finanças, os comportamentos geram emoções – e elas alteram o comportamento cerebral. Ele exemplifica com o caso de uma pessoa endividada, que “acaba por vivenciar emoções negativas, tais como raiva, culpa, baixa autoestima ou mesmo pânico”.
“Essas emoções alteram as funções cerebrais, levando a insônia, depressão, ansiedade, irritabilidade e autopunição”, afirma. No limite, esse quadro pode levar a situações extremas, como divórcio e demissão, e a transtornos físicos (hipertensão arterial, problemas cardíacos) e psiquiátricos (dependência química, depressão).
Uma pessoa financeiramente saudável costuma vivenciar emoções positivas e apresenta disciplina, motivação, assertividade, autocontrole, alegria, autorrealização. “Essas emoções costumam melhorar a autoestima, estimular o empenho, facilitar a recompensa e, desta forma favorecer o sucesso na vida e na carreira”, elenca Francinaldo.
Créditos: Com Informações do Instituto de Longevidade Mongeral Aegon